Gustavo Carmo pode ser o primeiro sucessor eleito em Alagoinhas desde Chico Reis

Gustavo Carmo pode ser o primeiro sucessor eleito em Alagoinhas desde Chico Reis

Em Alagoinhas, um padrão eleitoral persiste quase inalterado nas últimas três décadas: a cidade elege prefeitos e, por vezes, os reelege, mas parece resistir à ideia de escolher sucessores indicados por estes. Desde a eleição de Chico Reis (PFL), apoiado por seu antecessor Judélio Carmo (PMDB) em 1988, nenhum prefeito conseguiu fazer seu sucessor.

O retrospecto, que se confunde com uma ideia de tradição local ou paradigma político, pode ser explicado pela história política da cidade. Embora nem os prefeitos seguintes, Murillo Cavalcanti (PFL) e João Fiscina (PMN), que tiveram apenas um mandato, nem Joseildo Ramos (PT) e Paulo Cezar (PSDB e PDT), ambos reeleitos, tenham conseguido eleger seus sucessores, esse histórico se deve mais aos perfis e decisões dos políticos envolvidos e sucessores escolhidos do que necessariamente ao perfil do eleitor local.

No caso de Joseildo Ramos, que governou a cidade entre 2001 e 2008, teve a chance de eleger seu sucessor, mas fez a escolha errada para tal finalidade, optando pelo seu correligionário de partido, o vereador petista Elionaldo em detrimento do seu vice-prefeito Pedro Marcelino, filiado ao PCdoB.

A forma como o processo se deu não é de conhecimento público, portanto não será aqui tratada, mas o fato é que o rompimento do grupo político acarretou na candidatura própria de Pedro Marcelino. Com as forças da esquerda divididas, o ex deputado estadual Paulo Cezar Simões conseguiu se eleger.

Vale ressaltar que, na época, Paulo Cézar, que venceu as eleições daquele ano, era conhecido por receber dezenas de munícipes em sua residência, prestando assistência àqueles que o procuravam, enquanto Elionaldo tinha a reputação de ser uma pessoa fechada, que não cumprimentava pessoas na rua, embora dotado de inteligência e preparo.

Também que não se sabe se é verdade que o ex-prefeito Joseildo teria dito que conseguiria eleger “até um poste”, mas a suposta fala permeia os comentários políticos e discussões da cidade até hoje.

Além disso, a postura de alguns membros do grupo petista enquanto ocupantes de cargos públicos e funções de confiança na época gerou antipatia entre os servidores públicos do município, o que também prejudicou Elionaldo na eleição.

Oito anos depois, foi a vez do reeleito Paulo Cézar (2009 – 2016) tentar eleger sucessor, mas o mesmo esbarrou, assim como seu antecessor, na escolha pessoal. Paulo Cezar optou pelo nome da pessoa que foi sua secretária de infraestrutura, que era dotada de muito respaldo técnico em sua função. Porém, segundo as palavras do próprio PC ao Programa Intera, “não houve acordo em torno do nome de Sonia, o que o fez perder o apoio do grupo Azi e, por consequência, a eleição”. A declaração pode ser assistida no link a seguir: https://www.youtube.com/watch?v=r0NGZd8KTIk

Sônia Fontes, embora tenha sido uma secretária de infraestrutura muito bem conceituada, também era vista como uma pessoa de pouco carisma, além de forasteira, o que não teria sido bem visto pela politizada e orgulhosa população de Alagoinhas.

No ano que vem, quando o sucessor indicado também reeleito Joaquim Neto (2017 – 2024), Gustavo Carmo, deve disputar a eleição, esse retrospecto será posto à prova. A favor do atual secretário de educação, existem algumas diferenças quanto aos seus antecessores. Embora o nome e imagem ainda sejam menos conhecidos que os do principal concorrente, Gustavo está longe de ter uma figura (injustamente) antipatizada como a de Elionaldo. Sobre ele também não pesa a pecha de forasteiro que caiu (com justiça) sobre Sônia Fontes.

Além do óbvio aqui exposto, uma diferença fundamental: a natureza da escolha. Nas duas ocasiões anteriores, a decisão foi tomada de forma unilateral. A primeira, pelo PT em desacordo com outras frentes que compunham seu grupo e a segunda pelo ex-prefeito Paulo Cezar frente ao seu próprio grupo. No caso de Gustavo, a escolha de seu nome partiu do grupo, e não do prefeito. Com o apoio de diversos vereadores, secretários e agentes políticos locais e externos, Gustavo já tinha em torno de seu nome grupo suficiente para disputar (não necessariamente vencer) às eleições mesmo antes do prefeito oficializar a sua escolha como sucessor. Se nos outros casos, a escolha “não desceu”, dessa vez, ninguém na base governista tem do que reclamar. Quem pular do barco, o fará por divergências ou ambições pessoais.

Aliado a isso, devido ao atual alinhamento entre governo municipal e estadual, Gustavo deve contar com o inédito apoio do PT, que tradicionalmente disputa com chapa própria a eleição majoritária (outro “tabu” a ser quebrado). Outro reforço inusitado para sua campanha será o de João Rabelo, secretário de governo, ex braço direito do principal concorrente, Paulo Cezar.

Se será suficiente para vencer, só o tempo e as urnas irão dizer, mas outros fatores, como o trabalho em campanha e a avaliação do governo, serão mais decisivos do que qualquer paradigma estabelecido.

Foto: Facebook/Gustavo Carmo

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