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Para isentar Bolsonaro de responsabilidade sobre crises, seguidores (re)criam política “café com leite”

Muitos já presenciaram ou participaram de brincadeiras onde a criança mais nova estava imune às penalidades. Não procurava no esconde-esconde esconde, não perseguia no pega-pega, não importando quantas vezes fosse a pior na brincadeira. À essa condição, era dada a nomenclatura de “café com leite”.

Na História, o termo “café com leite” tem representado o período em que o país foi dominado politicamente pelos estados de Minas Gerais e São Paulo, nada tendo a ver com o mecanismo utilizado pelas crianças para igualar os desiguais em suas brincadeiras. Pelo menos até agora.

Chegando ao fim do terceiro ano de mandato, a dificuldade para justificar alguns insucessos do governo Bolsonaro leva seus seguidores a apelar para o recurso infantil de inclusão e isentar o presidente, como se os argumentos atenuantes à sua responsabilidade valessem exclusivamente para ele e não para seus antecessores.

Os protestos contra o preço dos combustíveis em 2016 (a gasolina custava cerca de R$4,10 naquele ano) mudaram de alvo. As críticas que se dirigiam à presidência da república, hoje são direcionadas aos governadores. O valor do dólar, que também era frequente motivo de protestos em 2016, quando custava menos que R$4,00 deixou de ser motivo de incômodo. A moeda americana hoje está cotada a R$5,25, depois do Ministro da Economia Paulo Guedes ter afirmado que só atingiria o valor de R5,00 se o governo fizesse muita m…

E os acordos com o centrão, demonizados em tempos passados? Tornaram-se justificáveis. O congresso não deixa o presidente governar, então se faz necessária a negociação de cargos, emendas e vantagens em nome da governabilidade. Não era justificável no tempo de outros governos, afinal, naquela época o congresso não dificultava em nada, mas hoje é. Por isso, não adianta a oposição cobrar da presidência as reformas prometidas e não executadas. Isso é coisa de esquerdista.

Por último, o discurso anti-corrupção, que foi carro forte da eleição presidencial, deu lugar à relativização de esquemas como rachadinhas, envolvimento com milícias ou obstrução da justiça. São pequenos desvios, compreensíveis em comparação aos casos de corrupção dos governos anteriores.

O seguidor de Bolsonaro se tornou aquilo que mais alegou repudiar no petista. Alguém que finge demência diante das evidências e desenvolve malabarismos retóricos para justificar o injustificável. Bolsonaro está blindado do senso crítico dos seus seguidores. Tudo que faria outro político ser considerado ruim, a ele é permitido. Nada nesse país é culpa dele. Talvez por isso ele governe como uma criança, imune à responsabilidade.

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